Nos últimos 3 meses a Gafisa teve uma valorização de quase 330%. Além do rally de fim de ano da bolsa brasileira, um dos motivos foi explicado pelo Pedro Menin, da Quantzed, no seu twitter pessoal.
O caso é um pouco longo e confuso, mas vou dar um spoiler: se parece com a gamestop, mas que tá sofrendo o short squeeze é o principal acionista. Nelson Tanure precisa comprar o máximo de ações possíveis para não perder o conselho de administração e ter que fazer uma OPA.
Segue abaixo a publicação do @MeninRibeiro no twitter.
Um dos principais pontos da disputa entre a Esh, a Gafisa e seu sócio Tanure é a aquisição, por parte da incorporadora, de terrenos em Cabo Frio-RJ.
A Gafisa comprou esses terrenos da Wotan, empresa ligada a Nelson Tanure e controlada por este, também sócio relevante da própria Gafisa, por 245 milhões de reais. Veja, aparentemente já temos alguns problemas:
1) Afinal, se nesses terrenos não se pode construir nada, por que a Gafisa pagou 245 milhões neles?
2) A transação levanta suspeitas de conflito de interesses.
3) Por se tratar de reserva ambiental, o terreno é também um enorme passivo. Para realizar o pagamento dos terrenos, a Gafisa realizou a 17ª emissão de debêntures conversíveis em ações.
Sabe quem subscreveu 98% da oferta? A própria Wotan. A Esh Capital enxerga isso como uma manobra para Tanure aumentar expressivamente a sua participação na Gafisa a preço de banana, com a contrapartida de entregar um ativo podre (esses terrenos em Cabo Frio). A Esh entrou na justiça para tentar reverter o negócio e conseguiu uma liminar suspendendo a conversão das debêntures em ações. O tema hoje é discutido em arbitragem.
A Gafisa alegou que não houve ilegalidades na transação e que laudos foram feitos por consultorias que atestaram sua legalidade. A consultoria financeira foi realizada pela Eleven Research, casa de análises fundada por Adeodato Volpi Netto, que já havia feito vários outros laudos para a companhia.
Contudo, Adeodato também é parte relacionada de Tanure, conforme publicizado pelo próprio empresário.
Ele foi contratado por Tanure para ser o “supervisor de seu portfólio de bilhões”, tendo sido até CEO de uma investida do empresário, a Ligga Telecom.
Nenhum dos laudos que embasaram a transação foram apresentados pela Gafisa, que alega não depender de autorização dos minoritários para realizar a transação. Hoje cerca de 20% da dívida da Gafisa advém dessa operação: a compra de um terreno inutilizável, feita entre partes relacionadas e embasada em um laudo potencialmente conflitado.
Outro motivo da disputa é o fato de Tanure já ter alcançado, de acordo com a Esh, mais de 30% do capital da incorporadora, o que de acordo com o seu estatuto, o obrigaria a lançar uma Oferta Pública de Aquisição (OPA).
O percentual seria atingido somando as participações dos veículos abaixo, citados pela Esh na convocação da AGE:
- Planner Corretora de Valores SA;
- MAM Asset Management Gestora de Recursos Ltda;
- Trustee Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda,
- Banco Master S.A.
E também os acionistas abaixo, apontados pela Esh como partes relacionadas a Tanure:
- Adeodato Volpi Netto;
- Estocolmo FIM;
- Taurus FIM;
- Albali FIM;
- Bellatrix FIM;
- Acasawaffle FIM;
- KORV Seguradora;
- KORV Capitalização;
- Guilherme Luis Pesenti e Silva;
- Renata Yamada Burkle;
- João Paulo Jabour Brunet;
- GBI Capital; – Jaburá FIA;
- Luis Fernando Garzi Ortiz,
- Sheyla Castro Resende.
A AGE visa, além da destituição do conselho, a suspensão do exercício dos direitos políticos dessas partes relacionadas, até que Tanure realize a OPA. Com a valorização recente das ações, a Gafisa emitiu um comunicado recente dizendo que isso a prejudicou a própria companhia e seus acionistas.
Até onde entendo de mercado, só se prejudica com a alta de uma ação quem está apostando contra ela ou quer diluir minoritários pagando menos. Quero ver até onde vai essa briga e quem vai levar a disputa. Ansioso para a AGE em 07/02, às 17h.